“Sou urologista com especialização em cirurgia robótica para câncer urológico. Tenho 38 anos, sou de Porto Alegre e moro há quase nove anos nos Estados Unidos. Hoje, dou aula na Universidade de Southern, na Califórnia. O departamento em que trabalho é o mais famoso do mundo em cirurgia robótica urológica.”
Conte algo que não sei.
Estamos trabalhando para que um dia o câncer tenha cura. Mais e mais, isso passará por um tratamento personalizado que seja capaz de reverter, no âmbito da genética e molecular, e sem cirurgia, o quadro, até mesmo antes de o tumor se desenvolver. Isso seria o ideal e que eu espero ainda ver acontecer. Até lá, temos que usar as armas de que dispomos, e acredito que a cirurgia robótica é uma excelente arma. É um procedimento complexo, mas com cortes pequenos.
Como ficam países como o Brasil, com problemas financeiros e no sistema de saúde, em meio às perspectivas tecnológicas para tratar o câncer?
Inicialmente, para ter a tecnologia do robô, faz-se um investimento alto, no Brasil, em torno de US$ 3,5 milhões, para uma plataforma. Mas caso se trate o número adequado de pacientes, e eles voltem mais rapidamente para suas atividades, talvez você economize dinheiro.
Há robôs deste tipo no Brasil? Quantos existem nos Estados Unidos?
No Brasil, há 25 sistemas, e nos Estados Unidos, dois mil. Mas há uma perspectiva de dobrar a quantidade de robôs no Brasil em dois anos.
Grandes empresas de tecnologia, como a Microsoft e o Google, têm investido em pesquisas na área de saúde. Você acha que os avanços no tratamento de tumores passarão por elas?
Acho que os melhores cérebros devem trabalhar em conjunto para resolver os maiores problemas da Humanidade, e o câncer é um deles. A colaboração multidisciplinar é fundamental.
E a prevenção?
O câncer de próstata é o mais comum entre homens em todo o mundo, considerando os tumores sólidos. A campanha do Novembro Azul busca conscientizar sobre a importância da prevenção com exames. O exame de PSA (Antígeno Prostático Específico) não basta para diagnosticar o tumor, pois em 18% dos casos os níveis aparecem como normais. Por isso, é preciso também passar pelo exame de toque retal.
Há, no Brasil, resistência dos homens em passar por esse exame. Isso acontece em outras partes do mundo?
Nos Estados Unidos, acontece, também, é uma coisa cultural. Mas as campanhas de informação têm ajudado a mostrar a importância do exame, porque nosso trabalho busca prevenir e diagnosticar antes que a doença já esteja avançada.
Para o câncer de próstata, já há fatores de risco identificados, como hábitos alimentares ou tabagismo?
Não está estabelecido, ainda. O histórico familiar é o fator mais importante. Mas questões como a obesidade ou a alimentação com embutidos estão sendo estudadas como possíveis fatores de risco. Além disso, a medicina personalizada está caminhando para entender que o tratamento do câncer não é uma receita de bolo, não há um tamanho que sirva para todos.
Como se sente quando entra em uma cirurgia?
Eu me sinto bem, gosto muito do meu trabalho. Dá uma satisfação muito grande exercer o princípio fundamental da Medicina, que é ajudar outra pessoa. Há cirurgias mais complexas, como a de câncer de bexiga, por exemplo, que podem chegar a seis horas, mas a concentração é tanta que não dá para perceber o tempo passando.